Anda tudo aflito, às avessas, uns preços que sobem, outros que não baixam. Ai que nos apetece gritar!
Chama-se crise!
A crise! A crise! A crise!
Ai que a malandra chegou às nossas carteiras, aos nossos carros, aos nossos planos. Oh! Vida arrasada! Por ela! Pela crise! Chegou a todo o lado. Imponente, a senhora!
E por mais que não queiramos... Eis que nos chegou também aos afectos.
Quer se queira, quer não. Fruto do stress. Da vida agitada. Da correria. Das prioridades (in)voluntariamente trocadas. Seja lá o que for! Os afectos também começam a estar contaminados pela desgraçada: a crise!
Os beijos que são dados a correr porque não há tempo!
Os abraços que não se dão porque passou o tempo.
Aquela visita familiar que se adia porque... Digam comigo:
Não há tempo!
Os telefonemas feitos à pressa, que o saldo vai-se num instante.
Sms não, que é de outra rede.
É a crise.
E afastamo-nos uns dos outros. E permitimos que isso suceda. Pacificamente. Sem dramas. Porque não temos tempo. Porque está tudo em crise!
E não temos tempo, também, para parar. Reflectir. E concluir que, estupidamente, deixamos os afectos, os amores, a alma e o coração desvanecer-se dos sentimentos mais nobres.
E assim, (in)conscientemente passámos, apenas, a ter tempo para a indiferença. Para o
laissez faire-laissez passer.
Sem nos darmos por isso, nem sequer imaginamos que a crise da falta de tempo nos oferece tempo a mais para a pior das crises: o esquecimento, a deturpação de valores e sentimentos, a inércia perante alguns dos que também amamos.
É compreensível. Não dá para mais. O tempo.
O conselho deste Ginásio para a vossa alma é que, para não se fugir ao padrão da crise, se pise, pois pela indiferença, esquecimento, inércia e falta de tempo alguns daqueles de quem gostamos.
Que se pisem.
Nem se pede que não, que isto anda tudo tão mau...!

Mas, caramba, que se pisem delicadamente. Ao menos, delicadamente.
De forma a que o outro nem precise de gemer.
Uma pisadela daquelas subtis. Ainda que se amachuque alguma coisita ali
p'rós lados do coração. Mas
devagarinho,
devagarinho,
devagarinho.De tal forma que nem sintamos a necessidade de alguma vez pedir desculpa. De tão leve que foi. Para que não nos pese a consciência de que alguma vez magoámos alguém de quem tanto gostamos!
E de quem é a culpa? Da crise! Qual crise? Olhem, de uma crise qualquer! Desculpem-se, de consciência tranquila, com qualquer uma delas!
Bom início de semana! :)
Aquele beijo a todos!